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Companheiros de quarentena





Mais de dois meses em isolamento social, mas muitas histórias para contar. A rede social tem mostrado a rotina doméstica de milhares de pessoas através de relatos, fotos e vídeos. A imprensa faz transmissões ao vivo, onde o cenário é o ambiente íntimo do lar dos jornalistas e dos comentaristas.
Às vezes ocorre a interrupção desses momentos pelos "pets", companheiros dos confinados, felizes pela companhia constante de seus tutores. Momentos divertidos com essa interferência já foram presenciadas pelo público, criando situações inusitadas, como quando o "homem do tempo" foi interrompido pelo seu cão, nos EUA, cena que viralizou na rede social.
Esses pequenos seres revelaram mais uma função inestimável aos seres humanos. Sua companhia, alegria e devoção têm preenchido e alegrado nosso tempo, atenuando a tensão universalizada provocada pela pandemia que assola o mundo inteiro.
Não é fenômeno recente a constatação do benefício trazido pelos animais domésticos à saúde mental dos humanos. Experiências exitosas de terapias nos tratamentos de distúrbios comunicacionais e emocionais já foram confirmadas através de estudos científicos. Da mesma forma o auxílio que os pets prestam nas visitas aos enfermos nos hospitais, aos idosos em asilos e até mesmo como atividade laboral dentro de presídios, invariavelmente atestam a melhoria emocional das pessoas envolvidas.
Há alguns anos, fui nomeada advogada dativa em uma série de inquéritos administrativos numa instituição pública. O trabalho visava a regularização funcional de servidores que, injustificadamente, não mais compareciam para trabalhar.  Consegui contatar com alguns dos investigados para fundamentar suas defesas, quando uma profissional na área da saúde me falou sobre a grave depressão que tinha sido acometida e sua decisão de se suicidar.
O relato demonstrou a força que um pequeno animal pode ter nas situações emocionais limítrofes. Usuária de drogas, vivendo sozinha e com visível comprometimento físico, ela decidiu que não mais se alimentaria e esperaria a morte, deitada no sofá de seu apartamento. Manteve-se assim por mais de um dia, porém sua pequena gatinha, única companheira, passou a exigir sua atenção e a alimentação. O fato de ter que levantar para buscar a ração do animal, fez com que acabasse por tomar água e, depois de algum tempo, ingerir algum alimento. Aos poucos encontrou forças para buscar ajuda.
São incontáveis os benefícios que os pets podem trazer. Nesse momento de angústia e incerteza, a convivência com eles, especialmente para aqueles que vivem esse isolamento sozinhos nas suas residências, é impagável.
Se merecidamente aplaudimos os profissionais da saúde e todos aqueles que estão na linha de frente, arriscando suas vidas para preservar as nossas, vamos estender essas homenagens aos pequenos companheiros de quarentena. Eles também salvam vidas, ainda que seja através de um mero olhar de devoção, de um abano de rabo e de um amor incondicional.



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